Revista Time diz que Brasil é a antítese da China

iG São Paulo: Julho, 10 de 2011 - Olivia Alonso, enviada especial do iG a China
O Brasil é a antítese da China, diz Ruchir Sharma, diretor de mercados emergentes do banco de investimento Morgan Stanley em um artigo para a revista norte-americana Time Magazine. Ele brinca com a frase “Deus é brasileiro”, e diz que se o País não realizar reformas necessárias será difícil crescer mesmo os 4% esperados para os próximos anos. “Se conseguir mais que isso, então talvez Deus realmente seja brasileiro,” afirma.

Sharma compara o Brasil com a China, afirmando que enquanto o país asiático possui uma moeda barata, um alto nível de poupança e um baixo custo de capital, “o Brasil é o oposto em todos os aspectos, inclusive no que deveria fazer para continuar crescendo.”

Enquanto a China precisa reduzir sua compulsão por investimentos, ter uma rede melhor de seguridade social e deixar sua moeda valorizar um pouco, o Brasil precisa de menos gastos com seguridade social, mais investimentos e de uma moeda mais barata, defende Sharma.
No artigo, chamado de “Brasil, o não-China”, ele fala do grande fluxo de capital estrangeiro que vem entrando no Brasil, o que vem contribuindo para a valorização do real, e “o que pode ser sentido em uma viagem ao País”.

“Quartos de hotel em Rio de Janeiro custam mais do que no sul da França. Restaurantes em São Paulo são mais caros do que em Paris. Bellinis são mais baratos em Veneza. Apartamentos no Leblon vendem mais do que em frente ao Central Park,” diz Sharma.

Em seguida, afirma que "há algo errado" quando um país de renda média tem uma moeda de país rico. “A sobrevalorização do real é um sintoma de economia seriamente desequilibrada.”

A entrada de dólares no País, ele explica, é impulsinada pelo alto custo das commodities e do alto juro brasileiro, mas ele alerta para a formação de uma bolha de dinheiro especulativo (“hot money”) no Brasil. Segundo Sharma, apenas uma parte da riqueza que chega no território brasileiro é investida em infraestrutura. Ele lembra também que o País usa somente 3% de suas receitas para este fim. “Não admira que exista morosidade excessiva nos portos e nas estradas. Agora é comum para altos executivos brasileiros viajar por toda São Paulo de helicóptero, a fim de evitar o tráfego da cidade,” completa.

O chefe de mercados emergentes do Morgan Stanley lembra que o Brasil teve em sua história recente um período de hiperinflação e estagnação econômica, mas que ressurgiu. “Sua taxa de crescimento dobrou nos últimos anos. Mas agora o Brasil está atolado pelo fardo do “grande governo,” acrescenta.

Sharma destaca que os gastos do governo são altos, de 35% da economia – em comparação com uma média de 25% em outros mercados emergentes. “A maior parte dele vai para a pensões generosas e programas de previdência, em vez de para a construção de estradas ou melhorar as escolas.” Ele menciona ainda que o Brasil é mal posicionado em rankings de educação, “aparecendo depois da maioria dos outros países de renda média.”

O artigo afirma que os investidores estrangeiros “encobrem essas deficiências” e concentram-se na estabilidade que o Brasil tem alcançado desde a crise dos anos 80 e 90, e nas commodities, “do minério de ferro ao café”, além do esperado petróleo de águas profundas. Mas acrescenta que a “moda” das commodities acaba contribuindo para elevar o valor do real a um nível que “fere outras indústrias”.

Como os brasileiros estão gastando muito com importações, diz Sharma, o saldo da conta corrente está no vermelho. “Se os preços das commodities caírem, esse buraco se tornará incontrolável,” diz. Tudo isso, conclui o diretor do Morgan Stanley, faz do Brasil a antítese da China.

A China tem 174 aeroportos comerciais em ótimas condições, limpos, organizados e modernos. Mesmo nos horários de maior fluxo, é difícil se deparar com longas filas. Trens e esteiras rolantes ajudam no deslocamento de um terminal a outro e não há tumulto para pegar as bagagens. “Na China, qualquer aeroporto pequeno tem oito pistas de bagagem,” comenta Tang Wei, diretor da Câmara Brasil China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE). Apenas como comparação, Congonhas, o segundo mais movimentado do Brasil, tem apenas cinco esteiras para a retirada das malas.

Nos próximos cinco anos, a China planeja investir R$ 360 bilhões para construir outros 56 novos aeroportos, disse Li Jiaxiang, diretor da Administração Geral da Aviação Civil (CAAC) da China, em uma conferência, em março deste ano. Os aportes levarão o número atual a 230. Enquanto isso, os investimento do Brasil na área devem ser 40 vezes menores, somando cerca de R$ 9 bilhões, até 2014, segundo informações da Infraero.

Este é apenas um exemplo da voracidade chinesa para melhorar sua infraestrutura. De 2011 a 2015, a China deverá investir pelo menos R$ 3,2 trilhões em aeroportos, ferrovias, rodovias, portos, energia elétrica e telecomunicações, segundo levantamento do iG com base em números divulgados por autoridades e pela imprensa oficial do país. E o país não tem nenhuma previsão de sediar uma Copa do Mundo tão cedo.

O valor é nove vezes maior do que o estimado para os mesmos setores no Brasil também em cinco anos, no período de 2010 a 2014. Veja a comparação no infográfico abaixo.

Os aportes em infraestrutura são de altíssima prioridade em um momento em que a China pretende incentivar o consumo interno – e ficar menos dependente das exportações -, levando parte da população que vive no campo para as cidades.

“O governo vem colocando bilhões de dólares em estradas, aeroportos, sistemas de transmissão de energia e escolas. É uma forma de preparar cidades para receberem mais moradores”, afirma Daniel Lau, chefe do escritório para a China na auditoria KPMG.

Ao mesmo tempo, uma boa infraestrutura para viajar aquece o setor de turismo dentro do país.Hoje, os chineses podem percorrer 8 mil quilômetros em limpos e modernos trens de alta velocidade. O iG passou por seis trechos e, mesmo em cidades menores, não houve atraso e os vagões eram novos e confortáveis. Ao todo, são mais de 26 rotas, ligando 43 cidades, além do MagLev, trem de levitação magnética que atinge 431 Km/hora no trajeto do aeroporto de Pudong ao centro de Xangai.

Até 2013, o plano do governo é atingir 13 mil quilômetros de ferrovias para trens velozes para passageiros – o que daria para ir três vezes de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até Macapá, no Amapá.

No total, as estradas de ferro chinesas devem receber investimentos de aproximadamente R$ 680 bilhões até 2015, segundo declaração de Sheng Guangzu, ministro das Ferrovias. No Brasil, os planos são de um investimento dez vezes inferior, de aproximadamente R$ 60,4 bilhões, incluindo o projeto do trem bala que ligará o Rio de Janeiro a Campinas, com 510 quilômetros de extensão, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os investimentos chineses em infraestrutura superam os brasileiros não apenas em valor total, mas também em porcentagem do PIB. Se os aportes se concretizarem e forem distribuídos de forma equilibrada nos próximos cinco anos, nos dois países, a China investirá em torno de 11% do PIB do país em infraestrutura anualmente, contra 3,4% do Brasil.

Mas os números podem ser maiores. Na China, foram considerados apenas os aportes cujos valores foram anunciados. No caso dos portos, por exemplo, o governo chinês afirma que pretende construir seis novas unidades para materiais pesados, além de expandir e modernizar os já existentes. No entanto, a quantia que será usada para todos os projetos não foi revelada. No levantamento, o iG considerou apenas os investimentos que serão feitos na província de Shandong e no porto de Ningbo, na província de Zhejiang. Nas contas do Brasil, entraram os dados coletados pela Infraero e do BNDES.

Fonte: AviaçãoGeral.Com

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