UM MOMENTO FUNDAMENTAL PARA O PSDB OLHAR PARA FORA

EDITORIAL - VALOR ECONÔMICO - 9/11/2010

Contados os votos, o PSDB saiu das urnas com 43,95% dos votos válidos para o seu candidato a presidente, José Serra, elegeu oito governadores, viu sua bancada federal cair de 66 para 53 deputados e perdeu cinco senadores. Excetuado o bom desempenho dos governadores - o que não significa muito num sistema federativo como o brasileiro, que tende à colaboração entre os entes federativos e ao conflito entre Poderes Executivo e Legislativo, quando não de ambos com o Judiciário -, pode-se dizer que o quadro do PSDB é de grave crise. O senador eleito por Minas, Aécio Neves, fala em "refundação"; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que não vai mais "endossar um PSDB que não defenda a sua história"; e o derrotado Serra recusa-se a dar adeus, preferindo um "até logo" no discurso em que reconheceu sua derrota.
Ao menos no diagnóstico, Aécio e FHC parecem coincidir. "O PSDB, quando digo que tem por referência o coletivo e ter um projeto, é agora. (...) Daqui a quatro anos é tarde. Ou você durante quatro anos martela os seus valores e transforma os seus votos em algo que é compartilhado por mais gente, ou chega lá e não consegue", disse o ex-presidente. O senador eleito Aécio Neves, quando fala em uma "refundação" para recuperar a identidade, defende a revisão do programa partidário até maio, quando deverá ocorrer a convenção do partido.
Maio parece um prazo apertado para um partido cujos problemas começam internamente, na disputa entre seus caciques, e terminam num lento, gradual e seguro distanciamento das bases, por falta de conteúdo programático. O PSDB perdeu o eleitor pobre, sobre o qual os chefes políticos tinham antes ascendência, para o PT, que se fixou nessa faixa de eleitorado nos oito anos de governo Lula, e não sabe como ampliar a sua base de apoio para além das classes médias mais conservadoras, sobretudo as de São Paulo e do Sul do país. Programas feitos sob medida dos resultados das pesquisa qualitativas encomendadas à farta pelo marketing de campanha de Serra e a apresentação de um candidato com currículo político não bastou ao partido, nas eleições presidenciais. O PT manteve o poder. Por mais um terceiro mandato, o PSDB será o principal adversário político do PT de Dilma Rousseff, depois de ter gastado discursos e CPIs contra o PT de Luiz Inácio Lula da Silva por outros oito anos.
A ideia de que o marketing resolve uma eleição é uma etapa superada em nossa democracia. Os candidatos lidam agora com eleitores mais amadurecidos, mais escolarizados e com mais renda do que em 1989, quando ocorreu a primeira eleição presidencial direta depois de 28 anos, 21 dos quais sob ditadura militar. Naquele ano, o candidato vencedor, Fernando Collor de Mello, foi um showman formatado por pesquisas quantitativas e qualitativas. Seu discurso, cuidadosamente preparado para o espetáculo. A eleição de Collor foi um marco em nossa história política. Depois dela, em nenhuma outra um candidato se sobrepôs à história de seu partido e à sua própria história.
O PSDB está em crise, e não é de hoje. Fez opções ao centro, saiu da posição de social-democracia, lugar hoje ocupado pelo PT, e tem que se ver com o seu passado. Desde que Serra foi vencido nas eleições de 2002, depois de oito anos de reinado de FHC, o PSDB ainda não achou seu rumo. Não assume as convicções do setor social que o apoia e não convence os setores que elegem o PT à Presidência de que pensam como o PT, e por isso devem ser eleitos no lugar do partido de Lula.
O partido tem também uma dificuldade enorme de falar com as bases. A fórmula proposta por FHC - "martela os seus valores e transforma os seus votos em algo que é compartilhado por mais gente" - é um chamado ao PSDB para que assuma o papel que cabe a um partido, de convencimento do maior número de eleitores de que sua proposta é a melhor. O que Serra fez foi tentar convencer o eleitor de que ele, no fundo, no fundo, era Lula.
O que elege são as diferenças, e não as convergências. Se os programas se aproximam tanto, perdem sua função democrática os partidos políticos, perde a razão de ser da oposição e da situação. A mudança estrutural que pede o PSDB, todavia, passa pela generosidade dos quadros políticos mais importantes do partido, que sempre definiram sozinhos suas diretrizes, de mudar o rumo e incorporar no debate político aqueles setores que dizem defender.

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