Bolsa Familia, em vez de café, agora pastos!

Bolsa, trabalho e a "mulher do Lula"
BREJÕES (BA) - Na primeira vez em que estive neste pequeno município baiano de Brejões, em fevereiro de 2007, os fazendeiros locais reclamavam que não estavam conseguindo trabalhadores em número suficiente para colher a safra de café. Ou melhor, não encontravam trabalhadores dispostos a ter a carteira assinada, uma exigência cada vez maior dada a firme fiscalização que o Ministério do Trabalho vinha empreendendo nas fazendas locais. A razão era simples: muitos temiam ter o registro em carteira e perder o benefício do Bolsa Família. Outros, em idade mais avançada, não queriam ser "fichados" (como se diz no NE) por esperarem se aposentar aos 60 anos (homens) ou 55 (mulheres) pelo regime especial da Previdência Social. O registro os tiraria dessa condição e eles teriam de esperar mais cinco anos para pendurar as chuteiras.
Na semana passada, voltei a Brejões, a 280 km ao sul de Salvador. Desta vez, para constatar algo surreal: muitos dos fazendeiros que antes lidavam com a falta de mão de obra desistiram do café e estão transformando suas fazendas em pastos.
Em vez de precisarem de até 200 pessoas por safra, podem administrar grandes quantidades de cabeças de gado com menos de dez peões.
Fazendas enormes que tinham até 1 milhão de "covas" (pés) de café estão passando por isso. O que se vê na região hoje são trabalhadores cortando pés de café secos que são vendidos como lenha para um curtume local.
Próximo dali, a trabalhadora rural Juceli de Jesus Alves, 47, trabalhava ilegal em uma fazenda e estava com medo de ser "fichada" e perder os R$ 134,00 que ganha do Bolsa Família (ela tem 9 filhos, sendo 2 ainda pequenos).Na semana passada, Raimundo Moreira de Souza, 56, fazia exatamente isso, empilhando lenha de pés de café em seu caminhão. Raimundo nunca teve a carteira assinada e não a quer, pois espera se aposentar daqui a quatro anos.
Não seria justo culpar apenas os benefícios dados pelo governo federal (como o Bolsa Família e as aposentadorias especiais) pelo o que ocorre em Brejões e em outros locais do país. Há outros problemas, como o preço do café estacionado e a falta de financiamento rural.
Mas é certo que os benefícios sociais, neste caso, têm causado uma distorção tremenda no meio rural.
André diz precisar todos os anos de cerca de 200 trabalhadores rurais registrados. Tem conseguido no máximo 70. Isso faz com que não consiga colher todo o café que planta na hora certa. Cerca de 40% do produto acaba caindo no chão, de onde é recolhido, mais tarde, pelos trabalhadores.Caso do fazendeiro André Araújo, de uma das maiores fazendas de Brejões, a Campo Grande:
Se tivesse o número certo de funcionários, poderia colher no pé quase 90% da safra. Isso faz uma diferença enorme, pois o café catado do chão (chamado "riado") perde muito da qualidade e é vendido a R$ 200,00 a saca. O colhido no pé valeria R$ 290,00.


Fernando Canzian, 42 anos, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006 e é autor do livro "Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929". Escreve às segundas-feiras na Folha Online. E-mail: fernando.canzian@grupofolha.com.br
Fonte: "FOLHAONLINE"

Um comentário:

  1. Em Minas é bolsa cachaça! O marido pega o dinheiro da mulher e vai pagar a conta do boteco. Minha irmã diz que eles ficam sentados na calçada esperando ela sair com o dinheiro. A mulher pega bico como faxineira, descola o almoço e as crianças comem na creche. Aí o malandro toma cachaça fiado.Beleza!

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