O Estado é o mercado - Ricardo Noblat: O Globo

Artigo no Blog  Ricardo Noblat
 Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
As Diretrizes para o Programa de Governo, que o PT discute no seu 4º Congresso Nacional, revigora o provecto dilema entre o mercado e o Estado.
Sobre o primeiro, responde o período político anterior a Lula, que envergou “as teses conservadoras e neoliberais” responsáveis por conduzir o Brasil à estagnação interna e ao menoscabo da sua importância global.
Já o segundo operou “a grande transformação” com crescimento vigoroso a partir de um “projeto de desenvolvimento democrático popular”, que nos trouxe o futuro, também conhecido como Dilma.
Até chegar ao texto final do documento, o PT ocupou grande espaço na mídia sobre a guinada estatizante que pretende imprimir caso consiga manter a hegemonia de poder.
De fato, o tal programa não deixa dúvida de que a intenção é de operar o modelo socialista do Estado-patrão.
Embora não mencione a palavra reestatização, as metas petistas preveem a intervenção pública em todos os setores da sociedade e da economia.
Da navegação de cabotagem à socialização dos bens culturais como a construção de cinemas; da transposição do Rio São Francisco à fabricação de medicamentos; da edificação de silos para armazenagem de grãos a linhas de metrô; da nacionalização da exploração e da produção de petróleo, via pré-sal, à “consolidação do paradigma de desenvolvimento da Amazônia.”
Há ainda coisas poucos compreensíveis como o “aprofundamento da transversalidade das políticas de direitos humanos” e o “aumento da produtividade sistêmica” do setor de infraestrutura, que poderão ser traduzidas em audiência com o assessor Marco Aurélio Garcia, quando for convocado para explicar os planos de futuro para o controle estatal dos meios de comunicação.
Naturalmente que não me causa temor a proposta do PT de reconstruir a economia de Estado. Isto é balela ideológica de influência bolivariana e não tem consideração prática.
O que realmente o PT está a dizer aos militantes é que o pós-Lula, com a ascensão de Dilma, vai significar a participação majoritária do partido na composição societária do Estado. A base aliada que se cuide.
Tem natureza extremamente hipócrita essa discussão sobre o mercado profano e o Estado sagrado. Para os petistas, o Estado é o mercado no sentido estrito do balcão de negócios, onde eles manipulam os contratos administrativos, que por sua vez são a razão de existir de grande parte do capitalismo brasileiro.
A leitura da proposta estatizante do PT deve ser no sentido de compreender que o futuro vai significar para eles hegemonia dos processos licitatórios e a manipulação completa dos seus trâmites para obtenção de maior rendimento das sinecuras burocráticas.
Vão dizer ao pessoal do movimento social de base que pode ir às compras pois o futuro está garantido na forma de repasses magnânimos.
“A grande transformação” de que fala o PT diz respeito à expansão das práticas do tráfico de influência, do domínio dos fundos de pensão e do aparelhamento integral do serviço público para que o gozo e a fruição das vantagens do poder sejam levadas ao exaurimento.
Há um entendimento de setores do lulismo de que o PT se contaminou com as más companhias trazidas para garantir a governabilidade. O argumento é falso.
O PT se preparou para fazer o grande assalto ao Estado nas administrações municipais e estaduais que antecederam ao governo Lula.
Havia um planejamento acurado de apropriação das generosas tetas do Estado, que sofreu um desvio de estratégia com o escândalo do mensalão.
De igual maneira não há porque estranhar o retorno de gente como José Dirceu, José Genoíno e João Paulo Cunha para comandar a campanha de Dilma Rousseff.
A reintegração de tais “companheiros” significa que “a luta continua” até que o PT consiga definitivamente ser o próprio Estado para consumir sozinho o que há de bom e do melhor no mercado.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
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