O que aconteceu na economia brasileira, ao longo do últimos 16 anos FHC & Lula


Crescimento econômico se constrói ao longo do tempo. Em economia as causas e conseqüências não são absolutamente imediatas.
Um exemplo: o Obama está passando o maior aperto pelo desajuste econômico que herdou de gestões anteriores. Ele não tem culpa, mas está sendo muito cobrado politicamente. A abertura da economia, o plano Real (que o PT votou contra), as privatizações, a lei da responsabilidade fiscal, a reforma da previdência (pouca, mas feita parte pelo FHC e parte pelo Lula no primeiro mandato), mudanças na lei de empresas estrangeiras, bolsa escola que virou bolsa família e o ajuste das contas públicas implementado pelo governo (FHC 2 e LULA1), tornaram este país mais competitivo. Com uma ajuda do crescimento mundial de 2003 a 2007(o maior desde a segunda guerra), que impulsionou nossas exportações e trouxe dólares para o Brasil, o governo Lula viveu anos de mais crescimento.
O governo FHC precisou consolidar o plano Real em anos terríveis (crise do México 1995, crise da Ásia em 1997 crise da Rússia em 1998 , crise aqui no Brasil em 1999 , crise da Argentina em 2001 e finalmente crise eleitoral em 2002, que ocorreu por medo que o Partido dos Trabalhadores desse o calote que sempre pregara). Era necessário manter o câmbio fixo (1 para 1) para que os produtos importados e cotados em dólares permanecessem baratos, trazendo a inflação para baixo e quebrando aquela mania de indexar tudo que nós brasileiros tínhamos. Para manter o câmbio fixo , o país precisava ter reservas em dólares para poder vender se houvesse pressão de compra. Em cada crise mencionada acima, havia uma fuga de dólares e o Banco Central tinha que subir os juros para atrair reservas de volta , sob pena de ter que desvalorizar o Real, o que traria a inflação de volta.
Os juros altos quebravam o governo por duas vias: 1) o governo pagava mais juros nos títulos públicos.2) desacelerava a economia, diminuindo a arrecadação de impostos. O governo FHC teve que administrar caixa baixa e a prioridade era controlar a inflação. Sem a inflação baixa nada disso que se discute sobre crescimento hoje em dia estaria sendo discutido. Além disso, o maior beneficiado pela inflação baixa é o mais pobre que perde valor do seu salário e não participa da ciranda financeira. O plano Real foi importantíssimo socialmente.
No meu modesto ponto de vista, o maior mérito do Lula foi ter tido a coragem de romper com que era pregado pelo seu partido e continuado o que foi iniciado pelo FHC tanto no controle da inflação (quando surpreendentemente colocou o Henrique Meirelles no Banco Central), e ter continuado o ajuste necessário nas contas públicas. Recomendo o livro que o Palocci escreveu depois que caiu do governo naquele lamentável episódio. Se chama Sobre Cigarras e Formigas e conta tudo o que aconteceu em termos econômicos naquela época. Ele se cercou de economistas apartidários da maior qualidade.
Infelizmente , no final do primeiro governo , com o país e a arrecadação crescendo, o governo estava ideologicamente rachado: o Palocci , o Paulo Bernardo do Planejamento e o Henrique Meirelles gostariam de continuar com a seriedade nos gastos públicos, fazendo pelo social e aumentando o nível de investimento do governo para podermos crescer ainda mais . O lado da Dilma e do Mantega queria aumentar os gastos de custeio do governo, visando principalmente reeleger o Lula. Em especial a Dilma se opunha frontalmente a “mania “do Palocci em ter seriedade com gastos públicos. Sabemos qual lado prevaleceu. As contas brasileiras estão se deteriorando. Fizeram artifícios contábeis para esconder isto, como lançar o que o BNDES( que é governo ) deve para o Tesouro como receita do governo. Sabemos que se este dinheiro for pago será num tempo que tende ao infinito. No IPEA , órgão do governo que deveria ser técnico e fazer pesquisa econômicas , os economistas que botam o dedo neste ferida foram postos na geladeira. É a primeira vez que vejo o IPEA com conotação política
Em suma, se continuar assim, daqui a alguns anos poderemos estar quebrados de novo. Neste ano de crescimento forte e recorde de arrecadação estamos conseguindo a proeza de aumentar o déficit público! Sou filha da dona Frida e quando a matemática diz que assim não vai dar certo, pode acreditar que não vai. Podemos estar perdendo a chance de crescer muito mais e construir um país melhor. O governo tem uma arrecadação de cerca de 38% do PIB e pede emprestado mais 3,5% para cobrir o déficit. O governo só investe ( infra-estrutura , tecnologia etc...) cerca de 1% do PIB( com PAC e tudo)! Sem investimento é impossível crescer no longo prazo! Este ano o PIB vai crescer perto de 8% e os gastos de custeio do governo (funcionalismo , máquina etc..) aumentaram 17%!! Tudo pela eleição da Dilma. O próximo governo, seja qual for, vai ter que fazer um ajuste nas contas públicas depois desta farra eleitoral e provavelmente vem imposto aí.
A Grécia não quebrou da noite para o dia. Muitos governos concederam benefícios, ganhando votos com isso, e um dia se descobriram quebrados.
A Dilma hoje anda com o Palocci a tiracolo para atrair credibilidade e os votos dos que se preocupam com as contas públicas. Mas ela atirava contra as idéias dele. 
Quando o Lula diz que “nunca dantes neste país” e faz o FHC ser o que entregou a “herança maldita”, ele está mentindo e sabe disso. Isto é não ser estadista e qualquer historiador honesto mostra e mostrará isto.
É injusto, e como brasileira , fico extremamente triste. O FHC é um grande injustiçado. 
O Lula não usou a sua grande popularidade para mandar sequer um projeto de reforma (tributária ,trabalhista , política etc...). Perdemos uma oportunidade de ouro de tornar o país mais moderno e eficiente. Reformas são difíceis e o Lula não teve vontade política de implementá-las. Preferiu focar seu capital político na eleição da Dilma e se manter no poder. Não é um estadista!
Existe uma ala poderosa no partido dos trabalhadores que tem um projeto de poder e não de país. Não são todos, mas pelo que a Dilma dizia no passado recente, tenho receio que esta parte prevaleça. Pode ser que ela resolva dar uma de estadista, mas tenho cá minhas profundas dúvidas.
Não vou lhe aborrecer mais com aulas de economia. Envio um arquivo sobre dados das privatizações( outra fonte de mentiras que vai contra o interesse do povo brasileiro) que escrevi em 2006. Os números falam por si. (ah! Como aprecio a matemática, que não aceita mentiras nem desaforos!)
Um detalhe:
Estatisticamente, a chance da Dilma morrer no meio do mandato é significativamente maior do que o Serra morrer (por motivos óbvios) e aí, teríamos MICHEL TEMER E O PMDB DO SARNEY NO PODER!!!!!! Que festa!
Voto no Serra conscientemente e sem ódio no meu coração.
Que Deus ajude o Brasil
Atenciosamente,
Nora Raquel Zygielszyper
Professora da Fundação Getúlio Vargas e do Departamento de Economia PUC do Rio de Janeiro
Fonte: googledocs 
  

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