UMA GUERRA CIVIL

EDITORIAL - - ZERO HORA (RS) - 2/9/2010

Pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE aponta um dado preocupante: nos últimos 15 anos a taxa de homicídios cresceu 32% no país, um índice que supera os da expansão da população e do aumento da renda média dos trabalhadores. Trata-se de um retrato perverso. Cento e dezessete brasileiros são assassinados por dia. Em 10 anos, entre 1997 e 2007, houve 512,2 mil assassinatos. No ranking da violência, o Brasil está na sexta posição, entre 91 pesquisados, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala, Ilhas Virgens e Venezuela. Os dados, originados de levantamentos do IBGE e de um recente Mapa da Violência elaborado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, desafiam os planejadores sociais e representam um estímulo para que a questão da violência seja mantida como uma das prioridades do debate eleitoral no Estado e no país.
Esse panorama de violência cresce de importância por representar um dado negativo, uma espécie de contramão, num conjunto de constatações positivas para o país. Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE mostram que o país cresceu 21,7% entre 1995 e 2009, fazendo com que a renda média per capita tenha passado de R$ 4.441 para R$ 5.405 e o PIB tenha pela primeira vez superado R$ 1 trilhão. Esse crescimento no nível de renda não repercutiu num indicador social tão importante quanto é o de homicídios no país.
A informação chama a atenção para um debate, ainda inconclusivo, sobre que medidas são as mais eficazes para que uma sociedade enfrente a violência e a criminalidade. Comumente se diz que tais mazelas devam ser atacadas em suas raízes sociais a miséria, a má distribuição de renda, o desemprego e a ausência de condições de educação e saúde. Essa posição não tem a unanimidade dos especialistas. Muitos entendem que não basta unicamente criar serviços e oportunidades, especialmente em países cujas populações convivem com disparidades sociais e onde amplas camadas da população estão submetidas ao convívio do crime e da marginalidade. Embora haja uma relação direta entre desigualdade e criminalidade, essa relação não explica todo o fenômeno da violência nem aponta o caminho único para seu combate. Aqui e em qualquer lugar do mundo há um papel intransferível para as políticas públicas de segurança, entre elas a que definem ações repressivas.
A questão dos homicídios, como o dos acidentes de trânsito ou as demais causas de mortes violentas, pela gravidade que seus números atestam, merece a atenção do país. Está em curso uma guerra civil mortífera, contínua e interminável. O Brasil, neste momento de avanços em várias áreas e de crescimento de sua autoestima, não pode deixar de enfrentar com a prudência que se impõe, mas com a coragem que o problema exige, o desafio de reduzir os índices de homicídios, que atestam um severo problema de qualidade de vida.
Embora haja uma relação direta entre desigualdade e criminalidade, essa vinculação não explica todo o fenômeno da violência nem aponta o caminho único para seu combate.
Fonte: pps.org.br

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